Oito anos depois, vasculhando meu office, trombei com o álbum Sand Crusader do Wael Daou — que ele me entregou lá em 2017, no lançamento. Confesso que ele ficou meio esquecido no meio de tanta coisa, mas não podia deixar passar mais tempo sem dar o valor que esse trabalho triplo merece. Então, bora corrigir essa falha e falar desse álbum robusto, cheio de peso, variação e aquela pegada única do nosso guitarrista paraense.
Conheço o Wael pessoalmente e sempre admirei o talento do cara — um guitarrista versátil que não se limita a um só estilo, mas entrega muita técnica, sentimento e personalidade em cada nota. Sand Crusader é uma obra que reforça isso, trazendo três discos em uma jornada sonora que mistura o peso do metal com influências que vão do erudito ao jazz, criando um som épico e ao mesmo tempo intimista.
Wael é de Belém, estudado no Líbano, e esse disco é o seu primeiro full‑length solo — lançado em 2017, gravado com músicos da cena local como Emmanuel Penna na bateria, que imprime uma pegada técnica e pesada, além dos vocais de Edu Lobo, Bruno Dourado, Leon Ferreira, Luiz Klaud e Mira Said, que trazem uma diversidade de timbres e estilos, reforçando o peso e a versatilidade do álbum.
Ainda por cima, o trabalho conta com a arte do Gustavo Sazes e uma mixagem/master de destaque — ou seja, profissionalismo pesado mesmo.
A produção, que é quase toda feita pelo próprio Wael, revela um cuidado extremo em cada detalhe: os riffs são precisos, os solos são intensos e cheios de emoção, e a harmonia entre os instrumentos cria uma atmosfera que prende o ouvinte do começo ao fim. Dá pra perceber claramente a evolução dele desde o EP Ancient Conquerors — Sand Crusader é mais maduro, mais complexo e ainda mais apaixonante.
São 7 faixas principais, numa mescla de ritmos pesados, melodias orientais, fusões com jazz, fusion, new age e música clássica. O uso das guitarras de 8 cordas é magistral, lembrando nomes como Jeff Loomis, Dino Cazares e John Petrucci… mas com identidade própria.Tem momentos furiosos, guturais e agressivos — como em “Scourge of Humanity” (com Bruno Dourado) e “Thorns of Joy” (com Leon Ferreira). Já a faixa-título é mais progressiva, cheia de mudanças de tempo e com vocalizações poderosas de Eduardo Lobo, Luiz Klaud e Mira Said.
As instrumentais “The Awakening I & II” mostram a técnica e a sintonia fina da banda. A épica “Power to Believe” e a emotiva “Mira” fecham o disco com chave de ouro — peso cavalar misturado à sensibilidade.
As faixas se apresentam como capítulos de uma história, com títulos e temas que remetem a batalhas, conquistas e jornadas no deserto — um convite para mergulhar em um universo mitológico e guerreiro, onde cada melodia tem um propósito e cada solo é uma narrativa. Perfeito para quem curte um som instrumental que não perde a pegada e ainda traz um conceito sólido.Para quem gosta de trilhas épicas, momentos de virtuosismo e uma sonoridade que transita entre o clássico e o moderno, esse álbum é um prato cheio. Recomendo escutar com calma, de preferência naquele momento em que você pode se desligar do mundo e se deixar levar pela música.
🎁 Extras
O disco vem com dois CDs bônus: versões repaginadas do EP anterior (Ancient Conquerors) e um DVD com video playthrough + animações. O packaging é caprichado, em digipack, com arte do Sazes e uma produção que dá inveja até em bandas grandes.
A arte de capa foi criada pelo renomado artista Gustavo Sazes, que também assina a diagramação do encarte. A capa mistura elementos que remetem à cultura do Oriente Médio, alinhando-se ao conceito do álbum. Cada faixa do disco possui uma ilustração única, compondo uma narrativa visual que complementa a experiência sonora.
🎧 Resumo final:
- Produção: nível internacional, super limpa e cheia de detalhes.
- Execução: virtuosíssima, mas sem perder emoção — guitarra de 8 cordas com intenção, não só ostentação.
- Variedade: do brutal ao introspectivo, o disco transita por metal extremo, progressive, instrumental e melódico.
- Impacto: é uma obra que mostra que a cena do Pará tem talento de sobra — e o Wael é prova viva disso.
Se você curte metal instrumental técnico, que não abre mão da alma, Sand Crusader entrega isso com tensão, melodia e arrasações épicas. Wael Daou plantou bandeira no underground — e o sinal chegou pro Brasil inteiro.
Mais uma prova do talento de Wael Daou, que merece todo o destaque da cena paraense e além. Agora que achei esse “tesouro” perdido, faço questão de compartilhar com vocês para não cometer o mesmo erro de deixar passar batido.
Parabéns, Wael! Que venham muitos outros trabalhos assim, cheios de força e alma!
Nenhum comentário:
Postar um comentário